ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

"E se eu te dissesse que esqueci desse mar aberto de dentro de mim? Que só olho pra fora, pras coisas? Que desaprendi irreversivelmente a gostar da solidão? Que eu não me basto? Que nadei pra terra, não quis mais me afogar? Que eu me viciei no auto-boicote, que eu não sei parar, nunca? Que eu só preciso de uma, veja bem, só uma grande idéia? E que talvez ela nem precise ser grande, mas que seja dessas que ninguém ainda teve, sabe? Eu quero uma idéia que ainda não é idéia, ainda não é nada.
E se eu te perguntasse por que meu mar fica cada vez maior toda vez que vejo essa gente? E por que quase todo mundo não passa de lago pequeno e cheio de lodo por dentro? Às vezes até por fora, olhando bem, consigo ver um pouco de lama em seus olhos. Eu vejo tanta lama no mundo.
E o que preenche um mar, sabe me dizer? O que vence a pressão e chega bem lá no fundo? Quem tem fôlego pra mergulhar assim? Pra onde é que foram os submarinos? Cadê as coisas à prova d’água? E as pessoas? Cadê a água? Só vejo o lodo saindo dos olhos e das garras.
E se eu te contasse que nada sei de rios, mares e lagos? Que o lodo é exterior, mas é o que mais compreendo? Que de compreender tanto tenho medo que se torne algo de mim? Que eu não sei o que fazer, vezenquando, com tanta água? Que às vezes quase mato afogado quem não pediu uma gota sequer? Que essa água me escapa, em muitas e muitas horas, e escorrega pelos olhos sem parar? Já transbordei tanto...
E se te confessasse que tenho este mar em mim desde sempre e ainda não aprendi a navegar?
"
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Mary Farias. Mais aqui http://a-loca.blogspot.com/

2 poemas de Paulo Henriques Britto




Não há nada lá fora?
Nem mesmo a idéia de um
lá-fora?


Não será possível,
ou sequer concebível,
o ir-embora?


Pode-se ficar dentro?
Não? Também não há um
cá-dentro?

Será ilusão
acreditar então
que saio e entro?

Perdão se sou existente
- perdão! quis dizer “insistente” -,
mas não há um lugar
onde se possa entrar,
mesmo que ausente?


***

Toda palavra já foi dita. Isso é
sabido. E há que ser dita outra vez.
E outra. E cada vez é outra. E a mesma.


Nenhum de nós vai reinventar a roda.
E no entanto cada um a re-
inventa, para si. E roda. E canta.

Chegamos muito tarde, e não provamos
o doce absinto e ópio dos começos.
E no entanto, chegada a nossa vez,

recomeçamos. Palavras tardias,
mas com vertiginosa lucidez -
o ácido saber de nossos dias.


Paulo Henriques Britto é tradutor e professor do Departamento de Letras na PUC-Rio. Traduziu, além de obras de ficção de vários autores, a poesia de Byron, Wallace Stevens, Elizabeth Bishop, Allen Ginsberg e Ted Hughes. Publicou cinco livros de poesia — entre eles, Trovar claro (1997), Macau (2003) e Tarde (2007) — e um volume de contos, Paraísos artificiais (2004). Uma antologia de poemas seus foi lançada nos Estados Unidos, The clean shirt of it, com tradução e introdução de Idra Novey (2007).


ENTREVISTA: Etienne Blanchard

ettienne em primeiro plano

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Etienne, vamos começar falando sobre a sua trajetória de poeta até aqui. Tem livro (s) publicado (s) ou pronto pra ser publicado (s)? Publicou onde teus poemas, revistas, jornais, concursos, internet?
sim tenho 4 a carruagem branca 1997, corag- terres du dehors- caractères, paris, 2000- a serpente, calábria, 2002 e o último oficial, com os poets, lya luft, moacyr scliar, bel zielinski, donaldo schüller, etc paz , um vôo possível. fora folhas e páginas e livros não oficiais ... ganhei um prêmio no primeiro dado por nina de almeida, a mim e à atriz carmem silva. tenho um outro que já vendi um pouco páginas grampeadas - a serpente 2...


Ser poeta é mais talento ou esforço? Descobriu-se ou inventou-se poeta?
é mais esforço. o velho dito : p cada 1000 páginas q tu leias, escreva uma palavra.


Quais livros (poesia e/ou prosa) fizeram parte da tua formação?
bruce chatwin, baudelaire, st-perse, bandeira, drummond, pessoa, nicolas bouvier, anaís nin, florbela espanca, artaud , rimbaud, quintana, mário de sá carneiro, kosynski, bukowski, éluard, verlaine, os poetas do rock, dylan, dylan thomas, walt whitman, são tantos e tantas , eskeço muitos.


Teve/tem algum incentivador? Quem?
sim vários, direta ou indiretamente, minha mãe , irmã, tia, família, frank demmateïs com quem tenho um cd , eskeci de falar , com banda - estrada, la route tzigane, arb, 2000. armindo trevisan, nina de almeida, eduardo veras,fachinelli, o saudoso, a saudosa tânia carvalhal, etc etc. são TANTOS(AS) MAIS UMA VEZ.


Com o que se inspira para escrever? O que é matéria para a tua poesia?
O SOL, ALUA, as palavras, os livros, a música, o espírito, AS VIAGENS, etc.


Costuma começar pelo primeiro ou pelo último verso? Qual deles é o mais difícil? O que detona o poema?
o primeiro, às vezes vem tudo de uma vez, de tanto ler, vc tem um código para psicografar- como diria pessoa- anjos e demônios.


Há idéias ou imagens que te perseguem, que ficam grudadas no teu juiízo algum tempo?
sim, claro, mas tento anotar imediatamente. baudelaire falou 90% do gênio é botar uma idéia em prática IMEDIATAMENTE.


Qual é a tua relação com a cidade onde mora, porto alegre? No que isso influencia a tua poética e se manifesta no que tu escreves?
na serpente o livro -prosa- acaba num quarto, depois de uma meia volta ao mundo quase. porto alegre é um porto, de onde saem os navios da alma, por onde passam marinheiros(as) angélicos , seráficos, demoníacos também.


Como define a tua poesia? Como caracterizaria tuas principais ambições estéticas?
um poema que tivesse as imagens das musas de meus sonhos e que saciasse a fome e a sede & o saber & a ambição mesmo & os mistérios & a sede de desconhecido. a utopia.


Tu identificas uma geração literária hoje, ou um grupo de poetas brasileiros com projeto comum definido? E tu te vês fazendo parte de alguma geração literária?
geração acho q é mais uma coisa de data... não sei . gosto muito dos seres humanos. viviane juguero, juliana wexel, mário pirata, adriane mottola, minha irmã danielle, vc q tem um trabalho de poeta também... nélson fachinelli era demais mas já é outra geração. nina de almeida também então... quem t ama apesar de teus grandes defeitos, como disse um grande escritor q não lembro o nome.


Recebeu ou recebe conselhos importantes de escritores na tua trajetória? Como foi e é o diálogo com outros escritores, da tua e de outras gerações?
sim de armindo trevisan indiretamente por escrito , de moacyr scliar por escrito, um cara muito legal em poa é o adido cultural francês ronan prigeant- pseudônimo emmanuel tugny. um cara que me incentivou muito e que morreu foi o filho de claudie a dona da livraria francesa de sampa. um outro cara demais é o tavinho paes, do rio e o joão luís de souza , espero não errar seu nome, do corujão poético do leblon , aliás idéia que temos que implantar aki, começa às 11 e vai até às 6 da matina regado a poesia, som e o que mais se quiser. em marajó, tem um poeta que corre todos os fins de tarde no meio da rua principal da cidadezinha, dá voltas, q é um cara muito legal também.


Quanto tempo dedica à leitura de crítica literária? Concorda com a idéia de que ela, nos jornais e revistas, está mais digestivo-introdutória do que analítico-crítica?
dali dizia : a crítica boa ou ruim não muda nada , vc tem q fazer e continuar fazendo até a morte seu trabalho de artista. mas a boa faz bem p o ego, a ruim é boa p melhorar o trabalho. no correio do povo antes existia o caderno de sábado. hoje acho q há pouco espaço no brasil, no mundo, tem que ter mais. mas há O VAIA !!!!


A crítica literária pode influenciar a produção poética de uma geração?
SIM CLARO devia existir mais como o antônio holfeldt no teatro , a bárbara heliodora, etc. o VAIA devia se tornar como a GRANTA de ny, etc.


Muitos poetas hoje apresentam uma versatilidade acadêmica. Eles falam várias línguas, traduzem, fazem ensaios, críticas, resenhas, estudam várias disciplinas. O poeta precisa ser um erudito? Poesia só se faz com muito estudo?
tem um cara que é demais : o kenneth white, ele diz q o poeta/artista deve saber um pouco ou bastante de tudo ; entomologia, química, línguas, etc etc etc aliás ele é um dos escritores favoritos meus , disparado, e um dos que mais me influencia, humildememte.


Como leitor de poesia o que tu achas que de mais importante um poeta tem que expressar em sua poesia?
a beleza, a energia, o amor, o conhecimento, a solidariedade, a abertura de espírito. open your mind and your ass will follow. seu quadril. a força de tudo vem do quadril e da kundalini. tantra yoga.


Qual a relação entre a poesia e técnica? Basta dominar certas técnicas para ser poeta?
ler, ler e ler. como diz lobo antunes, etc.


A poesia tem prestígio no âmbito da nossa cultura?
claro . tenho certeza que sim , entre as pessoa de classe independente da classe. MUITÍSSIMO.


Qual a função social da poesia? quebrar as barreiras sociais linnguísticas e a repressão.
Qual a melhor editora brasileira? E qual a que edita melhor a poesia?
por enquanto acho , que a que fundaremos, senão a age é muito legal. um abraço para todos de lá.


Já participou ou pensa em participar de oficina de poesia? Como ela foi/será?
sim, gostaria, mas muito também da de prosa do assis brasil.


Alguma epígrafe que te acompanha sempre?
solvitur ambulando- se resolve caminhando, viajando- navigare necesse est , vivere non necessere- não sei se tá certo, navegar é preciso viver não é preciso.


O que pensa sobre o jornal Vaia?
DEMAIS! sem comentários. pode ser nacional, mundial , cósmico, interplanetário. pode ter uma editora e uma tv uma produtora de cinema !


Repito uma pergunta que a Clarice Lispector sempre fazia aos seus entrevistados: o que é mais importante na vida pra ti?
o amor em todas suas formas, não existem noramas, só se forem alguams como a benguell.- p quem graças a deus já dei esse poema pessoalmente. a beleza também. o prazer. a felicidade. o saber é demais. o conhecimento. a LIBERDADE.


E porque você escreve?
para comunicar. para dizer tudo que não consigo dizer oralmente. para gravar em pedra o que existe na superfície e na profundidade do ser.
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Mais Etienne Blanchard aqui:
eti457.multiply.com

MAIS UM


Faz as malas e vem embora, querido dos olhos brilhantes. Não temos o que temer, os prédios e o asfalto não vão contra nós. A gente faz a felicidade a dois ser pra sempre até que nunca acabe. Eu só quero um pouco de você todo dia, o dia inteiro. Quero pensar em você sem motivo. Quero lembrar do carinho de ontem a noite como quem lembra do recado dado.

Faz a janta e senta na janela, meu amor. Eu quero um pouco de você em cima da pia mesmo que tudo se quebre. Sua mão no meu cabelo. As minhas mãos perdidas das tuas costas, rasgando. Vou tomar todo o seu cheiro pra mim pra poder fechar os olhos durante o dia dentro do carro e lembrar de você sem conseguir esquecer. Quero ficar satisfeita de você.

Deita na cama e me conta um segredo, meu bem. Conta ao meu corpo tudo que você nunca disse. E depois esquece. Fecha os olhos e me deixa cuidar do teu sono, dos teus olhos, enquanto faço as malas e vou embora.

Muriel Goldoni, publicitária, talvez escritora um dia. Mais em
murielgoldoni.blogspot.com

DUAS NOTAS

  • Faz tempo que estamos para falar aqui do Histórias Possíveis. É uma revista literária virtual de periodicidade semanal, na qual publicam diversos autores contemporâneos. E já está na quarta edição. Veja que belo time de ficcionistas:
    ANDRÉ DE LEONES - DANIELA DOS SANTOS - DANIELA MENDES - DHEYNE DE SOUZA - HENRIQUE RODRIGUES - LEANDRO RESENDE - LÚCIA BETTENCOURT - MAIRA PARULA - MARCELO MOUTINHO - MARCO AURÉLIO CREMASCO - MAURÍCIO MELO JÚNIOR - NEREU AFONSO DA SILVA - PRISCA AGUSTONI - ROBERTO AMARAL - RONIZE ALINE - SUSANA FUENTES - WESLEY PERES.
    Para saber mais escreva para
    historiaspossiveis@gmail.com. Ou se chegue por aqui.
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  • E também do belo trabalho que está fazendo o Marcelinho Spalding e companhia. Marcelinho está propondo uma grande parceria com os artistas gaúchos. Olhe, confira!

DUAS VOZES

Com o objetivo de divulgar e debater a produção musical e literária brasileira contemporânea a livraria Nova Roma, em parceria com o jornal Vaia, promove, mensalmente, o encontro de dois artistas (um músico/compositor e um escritor) para conversa, leituras de textos literários e pocket show.
O programa cultural Duas vozes – música e literatura pretende criar um espaço eclético para discussão de idéias, de todos os gêneros, grupos sociais e artísticos, tendo como linguagens a música e a literatura, além de tornar possível discutir e informar, colocando o público em contato direto com os artistas convidados para uma conversa descontraída e informal.
O evento tem duração de aproximadamente uma hora e meia e está dividido em três etapas: comentários sobre a obra dos convidados e breve entrevista; leituras e comentários dos artistas sobre seus trabalhos e participação do público e pocket show com o músico/compositor convidado.
No primeiro encontro – ocorrido em 29/09 - participaram o poeta e jornalista Nei Duclós e o escritor, compositor e músico Cláudio Levitan.
Na segunda edição - dia 27/10, sábado, às 1730hs – os convidados foram a cantora e compositora Monica Tomasi e o escritor e jornalista Luiz Horácio.
Em dezembro – dia 01/12, às 18hs – participaram do evento o músico e compositor Nelson Coelho de Castro e o escritor Luis Augusto Fischer.
A quarta edição do evento – marcada para o dia 15/12, sábado, às 18hs - terá como convidados o violonista e compositor Felipe Azevedo e o poeta Marco de Menezes.
A livraria Nova Roma está localizada na rua Gen.Câmara, 394 (telefone 30134535). A entrada é grátis.