Não há nada lá fora?
Nem mesmo a idéia de um
lá-fora?
Não será possível,
ou sequer concebível,
o ir-embora?
Pode-se ficar dentro?
Não? Também não há um
cá-dentro?
Será ilusão
acreditar então
que saio e entro?
Perdão se sou existente
- perdão! quis dizer “insistente” -,
mas não há um lugar
onde se possa entrar,
mesmo que ausente?
***
Toda palavra já foi dita. Isso é
sabido. E há que ser dita outra vez.
E outra. E cada vez é outra. E a mesma.
Nenhum de nós vai reinventar a roda.
E no entanto cada um a re-
inventa, para si. E roda. E canta.
Chegamos muito tarde, e não provamos
o doce absinto e ópio dos começos.
E no entanto, chegada a nossa vez,
recomeçamos. Palavras tardias,
mas com vertiginosa lucidez -
o ácido saber de nossos dias.
Paulo Henriques Britto é tradutor e professor do Departamento de Letras na PUC-Rio. Traduziu, além de obras de ficção de vários autores, a poesia de Byron, Wallace Stevens, Elizabeth Bishop, Allen Ginsberg e Ted Hughes. Publicou cinco livros de poesia — entre eles, Trovar claro (1997), Macau (2003) e Tarde (2007) — e um volume de contos, Paraísos artificiais (2004). Uma antologia de poemas seus foi lançada nos Estados Unidos, The clean shirt of it, com tradução e introdução de Idra Novey (2007).
2 comentários:
o segundo poema é muito classe.
caximbas on fire!
ainda à espera dos exemplares de poesia.
leo.
que beleza a poesia de paulo britto. qual é o tempo da palavra?
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