Falantes fiéis do português do Brasil inteiro, uni-vos!


Manifesto em defesa da nossa língua
Alaor Barbosa


Um perigo ameaça a língua portuguesa no Brasil: o de se transformar em mero dialeto de um povo cuja maioria terá passado a falar o inglês. Se continuar o atual processo de suplantação do português pelo inglês, em velocidade que tende a aumentar com o passar do tempo e com a acumulação de forças da concorrente inimiga, dentro de cem anos, cento e cinqüenta, duzentos, o inglês se tornará a primeira língua da maioria dos brasileiros e o português a segunda.
Esse fenômeno tem precedentes históricos significativos e alarmantes.
Um caso recentíssimo: o mais importante escritor tcheco do século XX, Franz Kafka, nascido em Praga, na Boêmia, então pertencente à Áustria, escreveu em alemão porque a língua tcheca só era falada na Boêmia por camponeses: a língua culta e oficial da Boêmia era o alemão. O fato de ser o inglês atualmente o idioma oficial da Índia nos adverte de que a antiguidade – ainda que multimilenar – das culturas nacionais não as defende do perigo de dominação estrangeira.
Poucos meses atrás, fiquei indignado aqui em Brasília contra um besta de um executivo que descia com outro executivo no mesmo elevador que eu, porque ele expressou, com desdém e cinismo, no seu sotaque que me pareceu carioca, a opinião de que a língua portuguesa já morreu no Brasil e de que necessitamos adotar logo a língua inglesa.
Os principais responsáveis pelo processo de substituição do português pelo inglês no Brasil são os comerciantes, os industriais e muitos dos profissionais que trabalham para eles – publicitários e jornalistas. Mormente os de São Paulo. Essa gente pensa que nomes de loja e de marca industrial, para venderem, têm de ser ingleses. Um pequeno, miúdo exemplo: uma loja de Goiânia, com filial em Brasília, com nome de uma nação indígena do rio Araguaia, adotou anos atrás um nome inglês, certamente impelida pelo pensamento de que nome indígena era feio e comercialmente impróprio e o nome inglês muito mais comercial e bonito. Tenho visto textos em jornais e revistas de São Paulo com frases em que a metade das palavras são inglesas.
Desde um decênio ou um pouco mais para cá, existem escolas de ensino de inglês em tudo quanto é cidadezinha do interior do Brasil. Já está sepultado no passado o tempo em que no Brasil só havia dessas escolas nas principais capitais. É avassalador – e parece irresistível – o processo de colonização idiomática no Brasil.
O aspecto das ruas centrais das capitais brasileiras (e não somente delas) pouco difere do das cidades americanas: os painéis e letreiros são em grande número escritos em inglês.
Se a língua portuguesa é a nossa pátria (para mim o é, assim como para Fernando Pessoa, o primeiro que o disse nestes termos), atentar contra ela ou omitir-se na defesa dela são crimes de lesa-pátria.
A Constituição do Brasil afirma que o português é o nosso idioma oficial. Todo ato que signifique infirmar esse imperativo constitucional é deve ser repelido, por ser antibrasileiro. Este é um aspecto jurídico da questão. No aspecto lingüístico-estético, tenho que o português é muito mais bonito e capaz de expressão do que o inglês. Muito melhor “centro de compras” do que “shopping center”, e assim por diante em todos os casos. Nada mais irritante e ridículo do que dizer “mídia” em vez de “media” (vocábulo latino que os americanos pronunciam à sua maneira e muitos brasileiros subservientes importaram do inglês).
Viva a língua portuguesa! Salvemo-la dos seus (nossos) inimigos!

Um comentário:

Equipe Bola Com Elas disse...

Nunca li tanta besteira. Devemos passar então a falar balipodo ao invés de futebol? Casa de carros ao invés de garagem? Pedaço de carne ao invés de filé?

Todas essas palavras originaram-se de estrangeirismos. O Português - graças a Deus - é uma língua viva, e e como tal tem como processo natual adaptar-se, aglutinar-se e receber a influência de várias outras culturas.

Durante o processo de formação do Brasil isso aconteceu primeiro com as línguas indígenas, depois com as africanas, depois com o italiano e o francês. Agora o inglês está em voga e é já vem contribuindo com novas palavras para nossa língua que, por causa desse intercâmbio, é riquíssima.