3 Contos

A MÁQUINA DO DR. K.
Desde o início, soube que usaria a máquina. De nada adiantou protelar sua decisão. Isso apenas permitiu a colaboração indireta da esposa, que o rejeitou na cama e pela manhã saiu sem aviso. Sua imaginação fez o resto. Essa gota de oceano o empurrou mais cedo para a máquina. Num fim de tarde nublado, dirigiu-se ao prédio decadente e sondou a existência do obscuro Dr. K., o inventor e primeiro explorador do inconcebível artefato.
A partir de então só pensou na máquina e nas vantagens asseguradas: novo rosto, novo corpo, outra personalidade. E com isso outra vida. Todavia, era preciso não se iludir: a transformação tornava as pessoas apenas outras pessoas, mas em tudo iguais a quaisquer outras. Os hábitos, embora novos, continuavam os mesmos, coerentes com a espécie. A transformação obedecia, por um lado, ao gosto do usuário e, por outro, a uma fórmula já consagrada pela própria vida. Foram estes, em suma, os prós e os contras expostos pelo Dr. K. A última condição era: uma vez transformada, a pessoa não podia voltar atrás e, por conseguinte, só poderia se submeter a uma nova transformação oito anos depois. Tal exigência não era de natureza contratual, mas fisiológica, uma limitação do corpo humano...
Nos dias que se seguiram, organizou-se como se fosse partir em viagem de férias. Despedia-se, era evidente. A esposa se surpreendeu. Ele consertou todos os eletrodomésticos parados havia meses e, sem nunca ter manuseado antes um pincel, retocou as paredes manchadas pelo desespero de ambos. Também poliu os móveis e saiu em busca de novos suportes para as cortinas dos banheiros. Os reparos em sua vida íntima não foram poucos: passou a acordar mais cedo e convidar a esposa para caminhar, e a ir com ela às compras, quase interessado ou pelo menos em silêncio, a observar sua destreza em escolher e avaliar os produtos, respeitando sua natureza retraída e cautelosa. Fatos assim, se recorrentes, dispensariam a máquina...
No trabalho, livrou-se diligentemente de todas as pendências. Desengavetou antigos projetos e, atualizando-os, deu-lhes nova forma, redação mais precisa, livre de ambigüidades. Em duas semanas, o chefe o congratulou pelo entusiasmo dos últimos dias. Naquela tarde, saíram e se conheceram melhor. Quase se tornaram amigos. E marcaram uma pescaria, à qual levariam, ele a esposa, e o chefe a jovem namorada. Estavam bêbados e, por isso mesmo, mais íntimos, sem reservas. Chegou tarde em casa, mas ainda assim a esposa o esperava, afável e excitada. Prolongaram-se na cama, rindo e conversando. Depois lancharam e voltaram a se amar. O sol subia no horizonte quando afinal adormeceram, esquecidos dos sombrios temores dos últimos meses.
O segundo encontro com o Dr. K. aconteceu, apesar da felicidade que agora o contemplava. Com a esposa, era como se tivessem voltado aos primeiros dias. Transformada, ela por muito pouco não retomara aquela fisionomia inicial, que lhe tirava o sono. Mesmo assim, não mudou de idéia. Seguia por trilhos sem volta. O Dr. K. o obrigou a preencher uma enorme papelada e em seguida, tendo chamado sua jovem assistente, o introduziu na sala onde estava a máquina, uma alta cápsula metálica, de superfície uniformemente lisa, com duas imperceptíveis portas, uma de cada lado. Afora isso, nenhum botão, qualquer mecanismo. Aparentemente, a operação se concretizava mediante controle remoto. De fato, nas mãos tanto da assistente quanto do doutor havia um bastão da mesma cor azul-metálica da cápsula e repleto de botões. A um gesto do doutor, uma das portas se abriu, para cima. A assistente o pegou pelo braço e conduziu até o interior da cápsula. No exíguo compartimento não havia nada, exceto o ar sufocante e asséptico. Enquanto usuário, ele teria que ficar de pé ali, entre quatro paredes, e esperar... Então adormeceria e, como num sonho, antes de cair, despertaria do outro lado, outro. O processo não consumia mais que dois minutos, garantiu a moça, com uma voz de veludo e um sorriso provocante. Quando fez menção de deixá-lo, ele protestou:
“Não”.
“Não?”, ela disse, surpresa.
Não estava preparado.
“Ninguém jamais estará”, filosofou o Dr. K.
Abandonou o estreito compartimento. Durante o tempo que esteve ali suas mãos passearam pela lisa superfície metálica. Assim vira, certa vez, num filme antigo, um homem tocar os livros na estante. Espécie de despedida ou de reconhecimento de um universo ou instante já perdidos ou por esquecer, brevemente... O súbito roçar da morte, talvez, ou o despertar para um incerto mundo de sensações. A verdade era que ali, naquela espécie de ataúde, ele iria desaparecer em breve, e para sempre. Seu último ato nesta vida.
“Eu sei”, disse, com um considerável atraso e no tom vazio e hesitante de alguém que a vida inteira foi um tímido, um inadaptado. “Amanhã, sem falta.”
Naquela tarde foi visitar a mãe no asilo. E talvez se despedir. Não foi difícil: a velha, diante da tevê, se assemelhava a um peixe impassível dentro do aquário. Emanava indiferença e fleuma. Não era o filho que estava ali, mas um homem qualquer, estranho. O lábio inferior, caído, acentuava-lhe a expressão de desdém e alheamento. Comiserado, ele puxou uma cadeira e se interpôs entre a mãe e a tevê. Para seu assombro, a mulher continuou a olhá-lo como se ele fosse uma extensão do aparelho. E mesmo quando ele o desligou ela não esboçou nenhuma reação. A definitiva ausência de vida útil a suprimira de si mesma. Restava-lhe agora fundir-se à noite... Esta certeza o esmagou.
A esposa o procurou na cama, mas, pela primeira vez desde que se conheciam, ele a recusou, com elegância e uma contenção sexual incomum nos homens. Sem rancor, ela se virou e adormeceu, em segundos, dissolvida na exaustão. De seu lado, ele já ia sonhando, sonhando e sendo absorvido. O Dr. K. e sua assistente os receberam sem ânimo, os gestos bruscos e automáticos. Quando afinal a moça lhe perguntou, friamente, quem desejava ser, ele ficou prostrado, sem palavras. Não concebia a vida como uma escolha senão obscura, indefinida, do acaso...
“Vem”, a moça disse, puxando-o delicadamente. “Não importa. É sempre assim, com todos...”
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Mayrant Gallo. Baiano, poeta e contista, autor de “Dizer adeus” (contos, Edições K, 2005). É colaborador regular do Correio da Bahia, com crônicas, contos e ensaios.
http://mgallo.zip.net/


TRÊS CONTOS DE MAIRA PARULA
1.
Amar é sofrer, eu vou te dizer. "Não se esqueça de trazer uma lagosta pra mim", disse ela bem assim na beira do cais antes de eu partir para um mergulho de onde não sabia se voltaria. Agora aqui, a 45 metros de profundidade, e descendo cada vez mais, fico me perguntando por que não a mandei à merda, sem endereço. Desde criança que tenho dois sonhos: resgatar do fundo do mar a cruz do bispo Sardinha e me apaixonar por uma samurai que pisasse minha garganta até que me faltasse o oxigênio pra eu gozar. Se isso é pecado, me puna. A cruz do bispo eu ainda não achei, mas continuo mergulhando, e fundo, muito fundo. Tão fundo que acabei descobrindo Isabel dentro de uma ostra, escondidinha. Hoje vivemos juntas, só eu pago o aluguel enquanto ela arde na Fogueira Santa de Israel. Amar é sofrer, não preciso dizer mais do que as canções banais: é só uma gota de sangue verbal, apaixonei-me por uma obreira pentecostal.
2.
Jurandy me deixou aqui pensando. Foi buscar um côco. A areia pinica minha bunda. Jurandy gosta de praia deserta. Pra mim tanto faz. Ele diz que gente demais mancha o mapa. Jurandy fala bonito. No princípio eu assustava. Agora acostumei. Deixo ele falando sozinho. Como um rádio. Enquanto ele fala eu penso. Falo comigo coisas que Jurandy não ouve. Porque se ouvisse não ia me beijar com tanto gosto. O mar me deixa triste. Triste mesmo. E tristeza é coisa de vício. Não dá pra controlar. Se eu entrasse na água a gora, Jurandy nem ia ver. O que a gente não vê não dói. Não tem do que lembrar. Lembrar que eu fui bem pra longe, mas tão longe que ele nunca conseguiu me alcançar.
3.
Quando ela entrou pela porta da cozinha, vi em seus olhos que havia acabado. Perdi o apoio dos pés. Conversas não adiantariam mais. Já havíamos moído toda a carne. Voltei-me para meus amigos. Eram nove pessoas transpirando álcool numa cozinha abafada e alguma coisa dentro de mim se aconchegava. Outra incomodava. Na sala alguém ouvia Cranberries sem parar. Ela teria rido de mim se já não me ignorasse. Todos teriam rido de mim se já não estivessem rindo de outra coisa. Sem tirar o cigarro da boca, ela abriu a geladeira num impulso motor. Os músculos de minhas costas trincaram. A geladeira abraçou-a. Eu não tive a mesma sede.
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Maira Parula. Gaúcha, autora de “Não feche seus olhos esta noite” (Ed.Rocco, 2006). http://www.prosacaotica.blogspot.com/

COMIDA
Teteka Alves do Nascimento, sensibilizada pelas notícias em torno do Dia de Ação de Graças, quis comemorar a data de uma maneira condigna, algo mais do que fantasiar os filhos de vampiro para a escola, como fizera no recente Halloween. A humanidade sofredora estava necessitada da sua contribuição, podia perceber isso quando saía às compras e se deparava com indigentes enfeando as ruas. Convocaria o motorista, reuniria forças e iria entregar, pessoalmente, uma refeição para os primeiros maltrapilhos que encontrasse.
Dispensou a criadagem, fizessem o que lhes desse na veneta, desde que estivessem a postos para a preparação do jantar, mas reteve Carlos, precisaria do carro. Sentia-se, assim, em melhores condições para vasculhar a cozinha, a despensa e a adega. Primeiro, abriu o freezer das carnes vermelhas, mas ter que assar alguma já era exigir demais de sua benevolência. No de frutos do mar, achou uma linda lagosta, isto sim, era o tipo de refeição que um faminto jamais esqueceria; colocou-a sobre o balcão. No de aves, localizou o peru reservado para a celebração de logo mais, os patos para alguma comida alemã, uma lebre que ali não deveria estar, as perdizes e marrecas das caçadas de Romano, e uma profusão de frangos; tudo, evidentemente, cru, à exceção de uma galinha caipira que fora congelada assada, e, intacta, esperava por dentes ávidos; separou-a. Da geladeira, colheu os escargots restantes do jantar francês de segunda-feira.
A lagosta, claro, estava crua, mas alguma coisa essa gente também poderia fazer por si mesma; afinal, não os tinha visto ao redor do fogo, embaixo do viaduto, assando qualquer nesga num espeto recurvado? Na adega do porão, examinou vinhos franceses, italianos, portugueses, chilenos, mas se conteve, num assomo de lucidez, antes de visitar latitudes menos prováveis. Nada disso, não iria instrumentalizar a bebedeira de ninguém. Subiu para a área de serviço, e de um móvel embutido retirou um conjunto de sacolas, escolhendo uma que lhe trazia boas lembranças de Luxemburgo; eles mereciam, o dia era mesmo especial.
Lembrou-se, porém, que só comer não bastaria, fazia-se necessário algo que tornasse mais bonitas aquelas vidas isentas de sentido. Com um excesso de cuidados, como se pudesse ser flagrada a qualquer instante por alguém que, fora do seu conhecimento, estivesse habitando a casa, percorreu salas e ambientes até retirar da mesa do espelho do hall um ikebana comprado no dia anterior. Não importava que já se extinguira sua anunciada duração ritual de vinte e quatro horas; os mendigos não se preocupariam, à japonesa, com a eterna mudança propiciada pela passagem do tempo; se nem ela ligava para esses orientalismos, por que eles haveriam de se preocupar; continuava bonito, viçoso e colorido, apesar de uma pequena necrose tê-lo maculado durante a noite. O arranjo fazia-se de uma flor de única pétala, enorme, amarela, cravada pela haste na argila e disposta na horizontal; de um verde e frágil junquilho, que, desde a haste da flor amarela, apontava para o alto; e de um galho finíssimo, negro, resistente, encimado por um botão diminuto, débil, e também amarelo, que completava a filosófica tríade pendendo para dentro do conjunto.
Chamou o motorista, juntou os víveres, e saiu no automóvel cinza-metálico que acabara de chegar do porto de Rio Grande, presente de aniversário que lhe dera Romano, talvez para compensar sua inextinguível ausência, fosse pelos afazeres nas empresas durante a semana, pelas sádicas caçadas nos dias de descanso ou pelas malditas e constantes viagens ao exterior.
Ande por aí, quero ver a paisagem – disse ao motorista, envergonhada de lhe confessar seu verdadeiro intento. Todavia, depois de algumas voltas, ordenou-lhe passar pela avenida Ipiranga, na pista mais próxima do bueiro central, onde mal se desprendia das margens o arroio Dilúvio, tal a quantidade de dejetos e esgotos que suportava. Não custou muito, percebeu uma movimentação embaixo de uma das pontes. Mandou Carlos estacionar a duas quadras, dentro do shopping, enquanto descia sem lhe revelar nada. Voltou a pé em direção à ponte, a última antes do gelatinoso arroio lançar-se no estuário do Guaíba, balouçando orgulhosa a sua caritativa sacola.
Do lado do viaduto, de onde subia a morrinha de uma fumaça esbranquiçada, gritou “oi moço”, mas não foi atendida. Desconfiou não houvesse ninguém em casa, mesmo assim, decidida, avançou uns passos pelo declive e repetiu o “oi moço”, apesar de ter diante de si uma mulher e dois homens. Sem saber o que dizer, arrependeu-se antes mesmo de qualquer contato, tão horríveis lhe pareceram os poucos dentes do homem negro, as nódoas de sujeira presas ao cabelo do homem ruivo, e as pernas abertas da mulher, sentada sobre uma pedra, deixando entrever o pano imundo que lhe servia de peça íntima. Para sair do constrangimento a que se impusera, ergueu a sacola luxemburguense e antecipou:
– Trouxe uns petiscos.
– Comida?! – arregalou os olhos o negro.
– É sim, e da melhor. Hoje é Ação de Graças, sabe, a festa norte-americana, e eu...
Olhou para dentro da sacola e retirou lépida o pote de escargots, alcançando-o. A mulher o tomou com repentino alvoroço, abriu-o, e pausadamente exclamou, entre decepcionada e compreensiva:
– Moça, a gente é pobre, mas nunca comeu caramujo.
– Talvez vocês não estejam habituados, é coisa fina, importada.
– Pode deixar aí – apressou-se o ruivo, pensando no seu cachorro. – Que mais que a senhora trouxe?
Temerosa de ofendê-los, retirou devagar a enorme lagosta:
– Ainda precisa ser preparada – sorriu amarelo.
Um dos homens a pegou, aproximou do nariz o fedentino animal, e, por uma educação atávica e esquecida, colocou-a sobre o banco de madeira. Teteka aligeirou-se e passou a mão na galinha, isso eles deveriam conhecer. A mulher da ponte apanhou com as duas mãos aquele coco congelado, sentiu o frio espinhar-lhe os dedos, e o deixou cair, o que fez que rolasse para o Dilúvio:
– Também não prestava. Olha só, tá boiando!
Esperançosa de que depois a fome os fizesse comer os escargots e preparar a lagosta, anunciou o ikebana com um sorriso nos lábios, uma flor nem o mais bruto dos seres recusaria.
– Tá bom, moça – falou o negro. – Mas na próxima a senhora vem com um bife no feijão-com-arroz, que a gente agradece.
Teteka retirou-se aborrecida. “Mal-educados e ignorantes.” Dirigindo-se ao shopping, contudo, já pensava de outra maneira. Contaria para a Gina, e para todos na festa da consulesa, sua grande ação de graças, e de como sentira preencher-se um vazio no seu peito enquanto assistia àquelas pessoas devorarem a carne dos caracóis iniciais e chorarem de agradecimento pelo que lhes proporcionara. Não, nada de baixo-astral, de ruim chegava a vida.
Embaixo da ponte, o homem ruivo chamou o seu cão e lhe atirou os escargots. O animal os farejou um a um, deu de lombo e foi embora.
– Nem o Importante quis essa joça – disse.
– O caranguejo, não fedesse tanto, eu até vendia pros hippie fazer artesanato – concluiu o negro, antes do arremesso para o meio do rio.
Sentaram-se em torno das pedras fumacentas, inconsoláveis. Gigante e avermelhado, o sol se punha atrás das ilhas do Guaíba, deixando um rastro dourado e ondulante sobre as águas. De mão em mão, passaram o arranjo floral, e, por teimosia ou desagravo, o comeram.
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Sidnei Schneider. Gaúcho, contista e poeta, autor de “Plano de Navegação” (poesia, Dahmer Editora, 1999). sbs303@terra.com.br

5 comentários:

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